* Juliano Simões é CEO da CentralServer.
Um dos principais desdobramentos da recessão de 2008 foi o crescimento dos modelos de negócio baseados no compartilhamento.
Serviços como Uber, Airbnb, TaskRabbit e WeWork caíram como uma luva para consumidores que haviam perdido o poder de compra e precisavam fazer mais com menos. De lá pra cá essas empresas expandiram globalmente, quebraram barreiras regulatórias e se tornaram parte das nossas vidas.
Isto até a pandemia do Coronavírus chegar e frear abruptamente a demanda por serviços como transporte pessoal, turismo e co-working.
E então fica a dúvida, como será o futuro?
Primeiramente, é preciso dizer que nem todas as empresas da economia compartilhada foram afetadas igualmente pela crise. Plataformas como Shopify, Amazon Web Services (AWS) e Microsoft Azure estão tendo que lidar com picos de demanda. Da noite pro dia, quem vinha adiando a transformação digital se viu obrigado a contratar rapidamente esses serviços para vender online ou suportar forças de trabalho no home office.
Outros setores como educação à distância e serviços de delivery também foram afetados positivamente. O Coronavírus é o novo motor da corrida para o digital.
No outro extremo, há os segmentos que terão que repensar seus modelos de negócio. Mesmo quando as pessoas voltarem a circular, haverá a ameaça de quarentenas intermitentes, o que deve reduzir o turismo de negócios e de lazer. O medo da contaminação também exigirá níveis inéditos de higienização de veículos e imóveis, gerando pressão de custos.
Na tentativa de esboçar uma reação, o Airbnb anunciou que passará a fornecer locações de longo prazo. A Uber optou por enfatizar o seu serviço de entrega de alimentos e a Lyft distribuiu milhares de máscaras e desinfetantes para seus motoristas. A ideia é seguir abrindo frentes de receitas e, ao mesmo tempo, reconquistar a confiança dos clientes.
Vale lembrar que as empresas deste setor ainda estão na fase da adolescência e, portanto, aptas a se reinventar. Cresceram acostumadas desafiar o status quo, demonstrar resiliência e focar no que realmente importa para o cliente.
Sob esta perspectiva, é bem provável que economia compartilhada supere a crise no médio prazo e siga nos mostrando a importância da sustentabilidade, da eficiência e da experiência, em detrimento da posse.
Juliano Simões